O processo de elaboração do luto geralmente tem início com as cerimônias fúnebres, quando familiares e amigos íntimos reúnem-se para darem seu último adeus e prestarem as últimas homenagens àquele que se foi. Apesar do momento ser extremamente doloroso, ele é fundamental para que as pessoas possam expressar suas condolências e amparar os mais próximos diante de uma situação de perda.
As despedidas também são carregadas de significados, uma vez que marcam o encerramento de uma etapa natural da vida. Mesmo que existam inúmeras diferenças culturais e religiosas ao redor do mundo, os ritos finais possuem uma função social muito forte em todas elas.
Neste artigo, você entenderá como as cerimônias de despedida contribuem para a construção de importantes e diferentes concepções em relação à perda.
O fechamento de um ciclo
Os tradicionais rituais de passagem como o velório, o sepultamento ou a cremação representam o fechamento de um ciclo e o início de outro. Eles têm o papel de amenizar a dor das pessoas enlutadas, ajudando-os a lidar de uma forma mais leve com a ausência do ente querido.
As cerimônias de despedida são espaços de acolhimento e suporte que contribuem para a aceitação da perda e a descoberta de novas estratégias de enfrentamento. Nessas situações, o apoio mais íntimos contribuem para que o enlutado consiga assimilar aos poucos essa realidade.
Após essa difícil experiência, a pessoa que vivencia o luto passa por um processo de ressignificação, em que ela necessita de um tempo para absorver essa falta e encontrar uma forma de transformar a dor da perda em saudade.
A Covid-19 e os impactos nas cerimônias de despedida
A chegada do novo coronavirus alterou totalmente a nossa rotina e nos impediu de realizar solenidades que eram na sociedade. Casamentos, festas de formatura, reuniões, eventos, viagens e até mesmo os funerais tiveram que ser adaptados e, em alguns casos, cancelados por conta da disseminação do vírus.
Os impactos sociais, econômicos, culturais e políticos assolam o mundo há mais de um ano e os problemas de ordem mental têm crescido dia após dia. De acordo com a pesquisa realizada em onze países pela Universidade de São Paulo (USP), os brasileiros são os que mais sofrem com o período da quarentena e as milhares de mortes constatadas diariamente. O estudo ainda aponta que o Brasil tem 63% de casos de ansiedade e 59% de depressão.
As doenças relacionadas à saúde mental crescem ainda mais quando a vida de alguém especial é repentinamente apagada pela Covid-19, tirando até mesmo o direito de a família realizar suas últimas homenagens. Os rituais de despedida têm uma grande importância no desenvolvimento de um luto saudável, sendo um espaço social em que a pessoa pode compartilhar a tristeza sem qualquer julgamento.
Nessas ocasiões, o enlutado tem abertura para compartilhar as memórias de seu ente querido e concretizar a morte. No entanto, com o isolamento social imposto pela pandemia a realidade é totalmente diferente. O caixão lacrado, a limitação de pessoas e o tempo curto para a realização do funeral são alguns dos aspectos que têm impedido esse último adeus.
Famílias que perdem algum ente querido pelo coronavírus se vêm desamparadas diante da impossibilidade de uma despedida digna. Ver a pessoa morrer sozinha em um leito de hospital e não poder dar o último adeus pode desencadear um processo de luto complicado.
Com o propósito de amenizar esse sentimento de solidão, a tecnologia chegou como uma grande aliada. Os velórios virtuais, salas de trocas de memórias e pequenas cerimônias personalizadas (que podem ser religiosas ou não) são algumas das alternativas criadas para que enlutado se sinta reconfortado e possa proporcionar uma despedida com carinho e respeito pelo ente que se foi.
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As diferenças religiosas
Os ritos de passagem são indispensáveis para a elaboração do luto e diferem de acordo com as particularidades de cada religião. A pluralidade cultural existente no Brasil, em razão de sua forma de organização política que garante a liberdade religiosa (Estado laico), permite que as despedidas sejam realizadas de maneiras totalmente distintas, respeitando as crenças de cada uma delas.
Entenda agora como são realizadas as cerimônias em algumas das principais representações religiosas:
Cristianismo
A existência de vida após a morte é um dos principais conceitos do Catolicismo e as cerimônias de despedida – conhecidas como exéquias – são permeadas de simbolismos. As salas de velório são decoradas com flores, cruzes e imagens que representam a fé cristã. As últimas homenagens contam com a presença de padres ou representantes da Igreja Católica que se reúnem com os familiares para a realização de orações.
Na ocasião, os católicos geralmente optam pelo sepultamento por acreditarem que no dia da ressureição o corpo inerte voltará ao seu estado normal. No passado, as mulheres também eram obrigadas a se vestirem de preto no primeiro ano de morte do marido, pai ou filhos. Com o passar do tempo, essas regras foram sendo flexibilizadas e poucas pessoas ainda seguem as tradições.
Candomblé
Assim como no cristianismo, o Candomblé acredita na finitude do corpo físico e na existência de uma vida espiritual em outra dimensão. Após a morte ocorre a preparação do finado para liberação do espírito, realizada nas casas de pais ou mães de santo, consideradas espaços sagrados. Depois dessa etapa, o falecido é conduzido a um espaço sagrado denominado Axé para a realização do Axexê (ritos fúnebres) com cânticos próprios da religião e, em seguida, acontece o enterro.
Nos casos de pai ou mãe de santo, a cerimônia de despedida perdura por sete dias e os presentes devem seguir as doutrinas e princípios da religião.
Espiritismo
Para a doutrina espírita a morte é encarada como o retorno à vida espiritual. De acordo com seus seguidores, o espírito se desliga desse plano e permanece vivo no plano espiritual, aguardando o momento certo para a reencarnação.
No espiritismo, o corpo é velado com preces e não há a presença de nenhum item decorativo, como flores e velas. Os mortos podem ser enterrados ou cremados, dependendo do desejo dos familiares ou do próprio ente querido.
Judaísmo
O judaísmo vê a morte como uma transformação para a vida eterna. O primeiro procedimento após o óbito é a lavagem ritual, com o objetivo de purificação do corpo. Em seguida, é colocada a mortalha, túnica branca de linho especifica para cerimônias fúnebres. Além disso, os judeus optam por despedidas mais curtas, preferencialmente no mesmo dia da morte.
Para representar a igualdade de todos os cidadãos, o falecido é colocado em uma urna simples de madeira ou diretamente na terra, sem qualquer tipo de ornamentação. Antes do sepultamento os familiares mais próximos praticam o keriá, na qual rasgam suas vestes como uma forma de representação do luto.
Budismo
Existem diversas correntes da filosofia budista espalhadas pelo mundo e cada uma delas possui suas peculiaridades no que diz respeito às cerimônias de passagem. Em geral, o budismo não enxerga a morte como o término de um ciclo, mas como a transformação dele. Os rituais podem ocorrer nos momentos que antecedem a morte, quando um monge faz diálogos e preces com a pessoa em situação terminal.
No budismo japonês, a passagem é realizada em formato de festa para a multidão. Nessas cerimônias que se assemelham a grandes eventos, os convidados colocam a sua melhor roupa e são servidos com um grande banquete e uma bebida intitulada “saquê da saudade”. O falecido é colocado sobre um palanque com flores e adereços de todos os tipos. Os familiares também levam incensos e perfumes como forma de homenagear a pessoa que se foi.
Islamismo
A religião mulçumana crê na vida eterna como uma forma de recompensa para aqueles que adoraram Allah (Criador de tudo para os islãs) ao longo de sua trajetória terrena. Assim como no judaísmo, o islamismo também é adepto ao banho purificador que acontece em três etapas: primeiramente são retiradas as impurezas, depois o corpo é lavado com ervas específicas e, por último, apenas com água corrente.
Esse ritual é de responsabilidade da família e deve ser realizado por pessoas do mesmo sexo. Após esse processo, são colocadas três mortalhas brancas sob o morto e ele é conduzido para o centro da mesquita com os pés voltados à cidade de Meca, considerada sagrada pelos mulçumanos. Diferente de outras doutrinas, o velório acontece de forma rápida e conta com a presença de líderes espirituais para a condução das orações. Em seguida, o corpo é enterrado diretamente na terra, sem caixão ou adornos.
Hinduísmo
A morte na visão hinduísta é uma passagem para um outro plano até que a alma consiga se reencarnar. As pessoas que tiveram uma evolução espiritual em vida ainda terão a oportunidade de passar um tempo no Loka, tido como uma dimensão de existência superior.
Antes do velório, o corpo é levado para a casa da família, onde será lavado diversas vezes e envolto em trajes próprios da cultura hindu, nas cores branco e laranja. Depois, seguirá para o ritual de cremação, realizado às margens dos rios sagrados, como o Ganges. No entanto, a cremação realizada pelos hinduístas ainda é bastante primitiva em diversas regiões da Índia.
Entenda como funciona o processo de cremação e quais as suas vantagens.
Homenagens póstumas
As homenagens póstumas são uma forma muito especial de celebrar a memória de quem se foi, ao lado dos mais próximos. Elas podem ser realizadas durante o velório pela própria família, por cerimonialistas ou celebrantes religiosos e têm um papel fundamental na elaboração do luto. Além disso, as honrarias também são comumente realizadas no 7º dia de falecimento, por meio de cultos ou missas (para os cristãos).
Em razão da pandemia da Covid-19, diversos rituais tiveram que ser adaptados por conta das restrições sanitárias. Os velórios e homenagens virtuais foram uma das maneiras encontradas para prestar condolências aos familiares (ainda que à distância) e reconhecer respeitosamente a partida do ente querido. As tradicionais cerimonias de cinzas realizadas após a cremação também foram adequadas ao formato remoto.
A importância dos rituais de despedida
Independente da orientação religiosa, do contexto histórico ou até mesmo de situações que envolvem saúde pública – como é o caso da pandemia da Covid-19 – os rituais de passagem devem ser encarados como acontecimentos de grande importância para o enfrentamento do luto saudável. Mesmo que de maneira adaptada, as homenagens aos falecidos desempenham uma função de ordem social e psicológica, possibilitando aos mais próximos compartilhar um momento de acolhimento e suporte diante da dor.
A fim de amenizar o processo de luto e oferecer aos familiares e amigos uma despedida digna ao ente querido, é imprescindível contar com o auxilio de um plano de assistência funeral. Esse modelo de serviço garante que os enlutados não precisem lidar com burocracias relacionadas ao óbito, além de ficarem livres de dividas futuras.
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