Desde crianças somos direcionados(as) a termos medo da morte. Mesmo que de forma inconsciente, evitamos falar abertamente sobre o assunto em nosso cotidiano e o associamos a sentimentos negativos, como dor, tristeza e sofrimento. O que deveria ser um evento natural – já que essa é a única certeza que temos na vida – ainda é tratado como tabu pela sociedade.
Uma pesquisa encomendada em 2018 pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), constatou que 74% dos brasileiros não costumam conversar sobre a morte. Do número total de entrevistados, 48% consideram o assunto depressivo, 28% mórbido e 45% ainda afirmam não se sentirem confortáveis para participar de velórios e/ou enterros.
Continue a leitura e entenda a importância de desmistificar preconceitos e superstições acerca da finitude.
Desde quando o ser humano tem medo da morte?
Vivemos em uma sociedade despreparada para encarar o luto, mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, esse momento chegará para todos. Segundo psicólogos, esse medo é considerado uma herança social decorrente da era pré-histórica, quando o ser humano precisava caçar para garantir a sua sobrevivência e não sabia se conseguiria o almoço do dia ou se serviria como alimento para outro animal.
Outra explicação para o sentimento de aversão à morte pode ter relação com as influências culturais e religiosas. Na Alta Idade Média (do século V ao XII), a passagem de uma pessoa era vista com maior naturalidade, sendo considerada um acontecimento público. Logo que uma doença era descoberta, o indivíduo se isolava em um cômodo da casa junto de seus familiares, pedia perdão por seus pecados e ficava à espera do último suspiro. O momento não era dramático e não havia comoção diante da situação.
A partir do século XVIII, a morte passou a ter outra conotação. Ao contrário do que acontecia no passado, o luto se tornou exagerado e centrado totalmente na dor dos mais próximos. Foi nessa época que os corpos deixaram de ser enterrados nos pátios das igrejas e passaram a ser sepultados em cemitérios.
Foi no século XIX que ela começou a se tornar um tabu pela sociedade, quando a gravidade de uma doença era ocultada para poupar o enfermo do sofrimento. Com o avanço da medicina, houve um prolongamento da vida e, consequentemente, uma mudança drástica na representação social da morte. Agora, a despedida é solitária, sendo comum falecer sozinho em um leito de hospital.
Como o medo da morte afeta a qualidade de vida?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não sendo classificada apenas como a ausência de uma doença. Dessa maneira, a reflexão sobre a finitude também está diretamente relacionada à saúde, pois a partir dessa preparação é possível aceitar o luto com mais leveza.
No entanto, muitas pessoas procuram fugir dessa importante discussão e acabam desenvolvendo problemas emocionais que podem gerar impactos significativos na qualidade de vida. Os transtornos de ansiedade são muito comuns em indivíduos que têm medo de morrer e podem se apresentar de cinco diferentes formas:
1. Ansiedade generalizada: caracterizada pela preocupação e pensamentos negativos em excesso que causam estresse, inquietação e irritabilidade;
2. Fobias: medo excessivo e irracional de situações, objetos, pessoas, animais, etc.;
3. Ataques de pânico: ao contrário das fobias, a síndrome do pânico não é provocada por um medo específico e pode iniciar sem qualquer motivo. Geralmente, os ataques são identificados pelos seguintes sintomas: falta de ar, sensação de morte e taquicardia;
4. Transtorno obsessivo compulsivo: está associado a ideias ou pensamentos constantes, que podem vir acompanhados de obsessões – como o medo de atravessar a rua – ou comportamentos repetitivos, como conferir várias vezes a fechadura, por exemplo;
5. Transtorno de estresse pós-traumático: está relacionado a alguma situação traumatizante – como é o caso de um assalto – mexendo profundamente com o emocional.
Além dos distúrbios acima destacados, há um tipo de fobia definida pelo medo extremo da morte: a tanatofobia. Pacientes diagnosticados com esse transtorno psicológico sentem-se sempre assustados ou em alerta com situações que possam colocar a própria vida ou a dos mais próximos em perigo. Quadros depressivos, perda de controle e o distanciamento de ambientes que remetem à partida (funerais, cemitérios, hospitais, etc) são comportamentos que devem ser observados.
O acompanhamento psicológico, associado ao uso de medicamentos prescritos por especialistas (quando necessário) e ao apoio familiar, são as principais alternativas de tratamento para indivíduos com tanatofobia ou qualquer outro transtorno de ansiedade.
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Educação para a morte no universo infantil
O tabu ao falar sobre a finitude cria raízes ainda na infância, quando o assunto é ocultado das crianças com a falsa concepção que elas ainda não entendem do assunto. Dessa forma, elas já crescem com uma má compreensão sobre o fim da vida e tendem a sofrer mais.
Mesmo que seja um tema delicado para os responsáveis conversarem com os pequenos, por meio de uma comunicação clara e uma linguagem adequada à idade, é possível explicar que a morte faz parte do ciclo de todos os seres vivos e que ela deve ser encarada com mais naturalidade. Nos casos de falecimento de familiares próximos (pai, mãe, avós, etc), o diálogo precisa ser assertivo para que a criança assimile o fato que a pessoa não voltará.
Frases corriqueiras como “ela virou uma estrelinha” ou até mesmo “ele viajou para bem longe e levará um tempo para retornar” não são aconselháveis, pois podem criar uma expectativa errada, transformando-a em sentimento de culpa, negação e revolta.
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Falar de morte também é falar de vida
Pode até parecer contraditório, mas a morte pode contribuir para o prolongamento da vida de muitos pacientes que necessitam de transplantes. A doação de órgãos, tecidos e células pode ser a única esperança de vida e a chance de um recomeço para quem precisa.
Desse modo, comunique seus familiares sobre o seu desejo de se tornar um doador e explique como essa atitude é um ato de amor e solidariedade. No Brasil, só é possível doar órgãos após o óbito com a autorização da família. Não há a necessidade de deixar nenhum documento por escrito, mas é fundamental que essa vontade seja comunicada ainda em vida.
Caso ainda tenha dúvidas, a Luto Curitiba também está sempre ao seu lado para acolhê-lo no momento em que a sua família mais precisa. Entre em contato com a nossa equipe pelo 0800 041 8021 ou WhatsApp (41) 3514-3514.