Como lidar com a perda gestacional e neonatal?

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A chegada de um bebê transforma completamente a vida da família desde o momento em que a gravidez é descoberta. Após receber o resultado positivo, os pais já começam a se planejar para que a gestação ocorra da melhor forma e a expectativa de conhecer o filho(a) aumenta dia após dia.  O afeto e o amor vão crescendo ao longo dos meses, à medida que a pequenina vida se desenvolve.

No entanto, muitos têm esse turbilhão de sonhos interrompidos ao receber a dolorosa notícia de um aborto espontâneo ou do falecimento de um filho recém-nascido. Infelizmente, essas perdas não são reconhecidas socialmente, em razão do curto período de tempo em que os familiares tiveram com seus bebês.

Neste artigo, você compreenderá o que é a perda gestacional e neonatal e a importância do acolhimento adequado a esses casos.

A falta de reconhecimento na perda gestacional e neonatal

Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas em conjunto com outras instituições revelou que, a cada ano, dois milhões de bebês nascem sem vida. Esse número representa um natimorto a cada 16 segundos e indica que 40% dos casos ocorrem durante o trabalho de parto. Além disso, estudos apontam que a maior parte das perdas gestacionais ocorrem entre 8 e 12 semanas, sendo que metade delas são resultantes de anormalidades cromossômicas.

Ainda que os números sejam relevantes, esses tipos de luto ainda são bastante incompreendidos e cercados de tabus. Frases como “não era para ser”, “você ainda é muito nova e poderá engravidar novamente” ou até mesmo “você vai superar” são ditas com frequência por familiares, amigos e até mesmo profissionais da saúde com o propósito de consolar a pessoa enlutada, mas podem ser o pontapé para o desenvolvimento de transtornos emocionais.

Algumas maneiras para agir com mais empatia diante dessas situações:

  • Refira-se ao bebê pelo nome que os pais definiram;
  • Deixe que a família compartilhe os sentimentos de forma genuína;
  • Não minimize o sofrimento do outro;
  • Esteja sempre disponível para ajudá-los com tarefas do dia a dia, como ir ao mercado, à farmácia, etc.;
  • Jamais julgue a forma como os pais estão passando pelo processo de luto;
  • Quando puder, convide a família para sair ou fazer alguma atividade que a distraia (só fique atento(a) para não forçar a barra).

A morte é uma experiência complicada para qualquer pessoa e a falta de apoio dos mais próximos pode torná-la ainda pior, transformando-a em um luto não reconhecido – onde não há espaço na sociedade para vivenciar o momento. Pais que acabam de perder um filho durante uma gestação ou pós-nascimento se veem desamparados diante do sofrimento e não sentem sua dor validada.

Essa atitude de incompreensão ocorre porque o falecimento de um neonato não é tratado da mesma forma que o de um filho adulto. A falta de lembranças, memórias, fotos, recordações e, principalmente, a oportunidade de se envolver fisicamente com o bebê acabam descaracterizando a existência desse filho(a).

Saiba como enfrentar a morte e lidar com a perda de um ente querido.

Permita-se sentir

Não reprimir a dor da perda é a melhor forma de elaboração do luto saudável. Esconder os sentimentos, fingir que não é um momento difícil ou retomar às atividades cotidianas antes da hora podem contribuir para o surgimento de um luto atrasado ou complicado.

Tentar superar a dor a todo custo também pode ser extremamente prejudicial para a saúde emocional, pois a pessoa estará escondendo a experiência de si mesma e uma hora ou outra terá que encará-la novamente. O segredo é aprender a ressignificar a ausência, voltando o olhar para os planos idealizados durante a gestação, os momentos de alegria desde a descoberta do bebê e os aprendizados colhidos diante dessa difícil situação.

A perda pode vir acompanhada do sentimento de culpa e fracasso, característicos nesses casos. A mãe passa a se sentir responsável e tenta buscar justificativas sem fundamento para o ocorrido. Nos momentos em que as emoções se afloram e bate o desespero, é aconselhável conversar com pessoas que passaram pela mesma situação. Há diversos grupos de mães nas redes sociais que compartilham suas experiências e podem servir como uma importante rede de apoio.

Leia também: eBook: Viver o luto para superar a dor.

O luto paterno

A perda gestacional e neonatal está muito associada com a preocupação sobre a saúde física e mental da mãe. Porém, quando se trata do pai a situação tende a ser diferente, já que ele não costuma ter seus sentimentos reconhecidos. Além de ser um luto que já é invalidado pela sociedade, o homem acaba tendo que atravessar por esse novo cenário sozinho e ainda precisa dar todo o suporte à sua parceira.

No luto paterno também existe o preconceito enraizado ao manifestar emoções como choro e tristeza. Comentários como “você precisa dar forças à sua esposa” ou “como a sua parceira encarou a perda?” acabam descaracterizando o sofrimento masculino e o pai acaba adotando uma atitude mais racional ao lidar com a morte do filho. No entanto, a dificuldade de externar os sentimentos e a necessidade de camuflar a dor podem ocasionar problemas de saúde e até mesmo impactar o relacionamento.

A forma como cada um encara o luto também pode ser prejudicial para a vida conjugal. Isso acontece porque a mulher tende a querer colocar para fora tudo o que está sentindo, enquanto o homem se mostra mais fechado, desanimado ou sem paciência. Esses comportamentos contrários e a falta de comunicação do casal podem a provocar desentendimentos e levá-los a um distanciamento e, em alguns casos, à separação.

Por isso, o diálogo é tão importante para evitar essa desconexão entre os pais. É preciso entender que ambos estão vivenciando um momento difícil e cada um deles tem uma maneira de expressar seus sentimentos. O acompanhamento psicológico e a terapia de casal (individual ou em grupo) também são espaços interessantes que auxiliam na compreensão da dor do outro e os ajuda a estreitar vínculos.

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A assistência ao luto gestacional e neonatal

A falta de atendimento humanizado e assistência adequada dos profissionais da saúde após revelar aos pais a perda do bebê, também trazem sérias consequências para o processo de elaboração do luto.  Muitas famílias relatam que não há uma rede de suporte dentro do hospital e nem mesmo um acolhimento sensível aos pais.

Contudo, o problema não está apenas nos enfermeiros, médicos e a equipe multidisciplinar. Desde a formação, há uma carência na capacitação para lidar com esse tipo de luto e os profissionais na ânsia de “tirar” os pais daquele sofrimento acabam tendo condutas erradas por falta de conhecimento, como: evitar falar sobre o assunto, não dar atenção ao emocional da mãe e impedir que os pais tenham um tempo com o bebê (nos casos de óbito neonatal).

Dessa maneira, é fundamental o investimento do governo e das instituições privadas de saúde em conhecimento técnico, visando uma conduta mais humana. O desenvolvimento de habilidades de comunicação e de uma escuta qualificada dos profissionais podem auxiliar a família na despedida e contribuir para a construção de memórias afetivas.

Direitos da mãe enlutada

Retomar as atividades cotidianas após a perda de um filho costuma ser bastante desgastante e pode não ser a alternativa mais saudável nesse momento. Os impactos negativos são capazes de atingir o casamento, os outros filhos e até mesmo o rendimento no trabalho.

Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mães que perdem seus bebês com mais de 23 semanas de gestação têm direito ao auxílio-maternidade de 120 dias. Basta apresentar um atestado médico que comprove a situação e a certidão de óbito. Mulheres que tiveram um aborto espontâneo durante a gestação também estão amparadas pelo artigo 395 da CLT e têm direito ao descanso remunerado de duas semanas.

Em 2020, a Câmara Municipal de Sorocaba decretou a Lei Gael, como uma forma de dar visibilidade às perdas gestacionais, neonatais e infantis. Além disso, ela também instituiu o dia 15 de outubro como a Semana Municipal de Sensibilização à Perda Gestacional, Neonatal e Infantil na cidade.

Iniciativas como a realizada pelo município de Sorocaba são importantes para ampliar a discussão sobre o tema e auxiliar na sensibilização dessas perdas.

Uma perda como as outras

A experiência de uma perda gestacional e neonatal deve ser vista pela sociedade como qualquer outro tipo de perda. Mesmo que tenha sido por um curto período de tempo, esses bebês existiram e fazem parte dessas famílias. Por isso, a elaboração do luto faz parte do processo de aceitação da nova realidade e será ele que dará a força necessária para seguir em frente.

O apoio genuíno de amigos, familiares, colegas de trabalho e profissionais da saúde também são essenciais para que os pais consigam atravessar esse período. Reforçar o nome do bebê e deixar claro que nenhum outro filho o substituirá já é um grande passo para ressignificar a dor da parda.

Se você ou sua família precisar de algum auxílio, fale com a Luto Curitiba, empresa referência em atendimento humanizado e suporte completo aos associados. Entre em contato com a nossa equipe pelo 0800 041 8021 ou WhatsApp (41) 3514-3514.

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